terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Pedra na Vesícula pode me matar ?

“-Descobri que tenho uma pedra na vesícula! Tenho mesmo que operar?!” Esta é uma pergunta muito comum no consultório de um gastro-cirurgião, além de ser absolutamente compreensível. Enquanto sabemos que as pedras nos rins podem ser quebradas e eliminadas pelas urina, por que as pedras da vesícula devem ser retiradas cirurgicamente, junto com o órgão?
Vamos lá, existe explicação clara e lógica para isto.
Quando ocorre a formação de cálculos biliares na vesícula, isto por si só determina que o órgão, a vesícula biliar, não está trabalhando de forma adequada. Podem ser vários cálculos ou um único, podem ser grandes ou bem pequenos, conhecidos como microcálculos. O fato é que, ao contrário dos cálculos renais, temos que torcer para que eles fiquem “quietinhos” dentro da vesícula. Caso contrário, estaremos diante de possíveis complicações desta doença que podem se transformar em situações muito graves.
Para que possamos entender estes riscos, precisamos conhecer um pouco a função e a anatomia da vesícula biliar e do sistema que drena a bile entre o fígado (seu produtor) e o duodeno (primeira parte do intestino fino).
Ao produzir a bile, o fígado a envia para a vesícula biliar (uma espécie de bexiguinha que fica embaixo dele), para que lá seja armazenada. Os canais de bile que saem de dentro do fígado se unem com o canal da vesícula biliar e juntos formam um único ducto que leva a bile até o duodeno através de um pequeno orifício chamado papila (por onde o canal da bile desemboca no intestino fino).
Talvez os leitores já tenham imaginado o que pode acontecer caso as pedras da vesícula saiam de dentro dela… Isso mesmo, elas podem obstruir estes canais, desde o canal da vesícula biliar até o ducto principal que chega no duodeno. Em qualquer uma destas condições, a bile tende a se infectar por não ser drenada. Este entupimento leva a um processo infeccioso agudo. Isto agrava muito uma possível cirurgia, agora emergencial, que poderia ter sido realizada de forma eletiva e muito mais segura.
Para piorar um pouco a situação, na papila (onde desemboca o canal da bile), também desemboca o canal do pâncreas e, assim, o entupimento de ambos pode levar também a uma pancreatite aguda, situação clínica muito grave e que pode até levar a morte do paciente.
Mais uma razão para ser operado da vesícula sempre que for diagnosticado cálculos biliares, é o fato de que a cirurgia é muito segura e, atualmente, realizada, em praticamente 100% das vezes, por via videolaparoscópica, ou seja, através de pequenos orifícios na pele. Isto permite rápida recuperação, com índices muito pequenos de complicações. Muitas vezes, pode-se até receber alta hospitalar no mesmo dia da cirurgia.
Mas atenção, podem existir situações onde a retirada da vesícula é discutível ou mesmo contra-indicada, como por exemplo, naquelas pessoas com idade muita avançada, outras comorbidades, com apenas um cálculo grande e assintomático. Sempre uma avaliação médica poderá esclarecer se o caso é de exceção e não deve ser operado.
Por isso, não fique esperando que as coisas compliquem, trate eletivamente seus cálculos biliares e viva com mais segurança.

Pedra na vesícula é bomba-relógio e coloca seus pacientes em risco de morte

O que acontece quando a saída de ar de uma panela de pressão é obstruída? A resposta, claro, é o aumento de pressão. Aumento este, que pode levar até mesmo ao ponto de explosão. Guardadas as devidas proporções, é mais ou menos isso o que ocorre quando cálculos (pedras) obstruem a vesícula biliar, impedindo que a biles siga para iniciar o processo digestivo.
"O rompimento da vesícula biliar assemelha-se ao apendicite, pondo o paciente em risco de morte devido à possibilidade de infecção generalizada”, explicou o cirurgião da Santa Casa de Maceió, Renato Rezende.
A vesícula biliar é um órgão auxiliar do fígado. Funciona como um armazém que libera a biles quando há alimentos no estômago. Acabou a digestão, a vesícula volta a armazenar a bile.
Os cálculos começam a se formar quando a vesícula não consegue liberar todo estoque de biles regularmente. A biles é uma substância cuja composição inclui colesterol e cálcio. Esses resíduos que se depositam nos dutos que levam até a vesícula são a grande preocupação dos médicos.
“Pense numa piscina sem manutenção. Com o passar do tempo, os resíduos mais pesados se depositam no fundo”, comparou Rezende.
A literatura médica indica que as mulheres são as mais efetadas pelo problema na proporção de um homem para cada três mulheres. Cerca de 15% da população desenvolve cálculo na vesícula ao longo da vida, muitas vezes de forma até mesmo assintomática.
“Há médicos que preferem aguardar que o cálculo se manifeste de forma mais visível. Eu e muitos colegas defendemos que é melhor realizar a intervenção cirúrgica assim que for diagnosticado o cálculo. Trata-se de uma bomba-relógio com prazo para explodir. É arriscado esperar sua evolução”, alerta o médico cirurgião Renato Rezende.
Apesar de existirem medicamentos e tratamentos que tentam minimizar os sintomas provocados pelo cálculo vesicular, o melhor tratamento ainda é a intervenção cirúrgica. No procedimento, a vesícula é simplesmente retirada, assim como ocorre quando ocorre a inflamação do apêndice.
Questionado sobre a ausência da vesícula para o organismo, Renato Rezende explica que outros órgãos passam a cumprir esta função entre o fígado e o estômago.
Quanto à intervenção cirúrgica, o baixo índice de risco proporcionado pela videolaparoscopia reforça a tese de que é preferível retirar a vesícula do que aguardar a piora no quadro clínico. “A Santa Casa de Maceió foi pioneira na realização da videolaparoscopia. Cerca de 85% de deste tipo de cirurgia são de pacientes com cálculo na vesícula.
A Santa Casa de Maceió já realizou 20 mil videolaparoscopias desde 1993. O procedimento implica na abertura de quatro orifícios por onde passam os intrumentais, evitando grandes incisões.