domingo, 1 de agosto de 2010

Aposentada afirma: “Tive pedra na vesícula por causa dessa água”

Abrir a torneira e ver jorrar água é privilégio distante a muitos cuiabanos. Agraciada pelo líquido em abundância, a Capital peca na distribuição. Em relatório elaborado pela Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap), 97% dos lares cuiabanos são abastecidos por água, porém, de forma irregular.

Nem torneira nem água. Na casa de Francisca Ferreira Azevedo (31), moradora do bairro Dr. Fábio e mãe de cinco filhos em idade escolar, não existe rede de distribuição de água. Debaixo de um barraco, para beber o líquido, ela conta com a solidariedade de vizinhos. ”Essa situação é péssima. Pelo menos a água deveria ser à vontade”, aponta.

Na região norte de Cuiabá – na Grande Morada da Serra -, até quem pode construir poços artesianos anda passando por necessidades, devido ao período de estiagem. “Quando Deus manda a gente não compra água”, relata uma moradora. Além do problema da distribuição, em outras localidades a qualidade da água é inapropriada para o consumo porque é salobra.

Na avenida Governador Valadares, no bairro Alto da Serra, a moradora Fabiane Sena (37) teve que passar por cirurgia depois de consumir por um ano a água que vinha das torneiras. “Tive pedra na vesícula por causa dessa água”, confirma. Uma das vizinhas de Fabiane ainda diz que a água, por conter muitos resíduos, sempre entope o chuveiro e enferruja as torneiras.

Como saída, os moradores sempre compram água mineral e o custo mensal do líquido não sai por menos de R$ 40. Quando a água resolve aparecer nas torneiras, ela é usada para a limpeza da casa, lavagem das roupas, entre outros usos.

Se fosse precisar do poder público, talvez a empresária Rosângela Neide Belém (36) não teria aberto a lavanderia no bairro Dr.Fábio I, que emprega 11 pessoas e atende pousadas, hotéis e motéis em Cuiabá e Várzea Grande. Até no período de construção, Rosângela teve que comprar água para erguer a estrutura do estabelecimento, já que na rua onde mora a rede de distribuição instalada não funciona. “Eu tive que construir um poço caseiro e outros dois artesianos para dar conta da produção. Já teve água nos canos, mas isso já faz um bom tempo”, calcula.

Sem estrutura mínima de habitação, já é visível o abandono de muitas casas. Na frente da residência de Leidiane Souza Santos (28), dois vizinhos já se mudaram. “Só fica mesmo quem não tem opção”, aponta. A região em questão visitada pela reportagem é oriunda de invasão. Os moradores não possuem escritura das casas e, com isso, ficam impossibilitados de ter acesso ao serviço de distribuição da água.

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